"Leite" para alimentar o Bezerro, utilizado pelo homem!

 

ASSOCIATED PRESS (AP/Arquivo)

As diretrizes dietéticas americanas recomendam três copos de leite por dia, a publicidade alerta para as qualidades do leite e para os perigos na sua ausência, diz-se que faz bem aos ossos e que ajuda no crescimento. As crianças crescem a ouvir que o leite os vai tornar em super heróis. Fala-se do cálcio, da vitamina D e do fósforo. Mas será assim mesmo? Se bebe litros e litros de leite a achar que vai ter ossos fortes, vai querer ler este estudo.

Foi publicado na revista BMJ e  lança dúvidas sobre a visão generalizada dos benefícios do leite. Conclusão: não há nenhuma ligação entre o consumo de leite e o risco de fraturas. No entanto, consumidores ávidos têm mais probabilidade de morrerem mais cedo que os que bebem pouco ou nenhum leite.

Neste estudo da Universidade de Uppsala, do Instituto Karolinska e da Agência Nacional de Alimentação sueca, foram analisados mais de cem mil homens e mulheres com mais de 23 anos de idade.

Estes investigadores quiseram saber se os conselhos sobre o consumo de leite são cientificamente válidos. Na realidade, os ensaios clínicos observacionais revelaram que a associação de leite e melhor saúde tiveram resultados mistos.

Para além de não terem encontrado ligação entre o consumo de leite e o risco de fratura ainda há outra razão para o ceticismo: a D-Galactose, produzida pelo nosso organismo para combater a lactose, o açúcar no leite.

Estudos em animais mostraram que a exposição crónica a este nutriente provoca "danos causados ​​pelo stress oxidativo, inflamação crónica, neuro degeneração, diminuição da resposta imune e mudanças na transcrição dos genes". Na verdade, quando os cientistas querem imitar os efeitos do envelhecimento, eles dão shots de  animais ou alimentos que contêm D-galactose.

Assim, os investigadores voltaram-se para dois grandes estudos com adultos suecos.

Um deles incidiu sobre 61.433 mulheres que responderam a perguntas sobre a sua dieta entre 1987 e 1990. Entre elas, 38.984 responderam a um levantamento mais detalhado dieta em 1997. Outro em homens suecos com dados sobre 45.339 homens que completaram um questionário dobre dieta em 1997. Todos os participantes do estudo foram acompanhados até a morte (como verificado por registos de saúde suecas) ou até 31 de dezembro de 2010.

Os resultados

Entre as mulheres, 17.252 sofreram algum tipo de fratura, incluindo 4.259 que tiveram uma fratura da anca. Beber leite não parece reduzir o risco; em comparação com as mulheres que bebiam menos de um copo de leite por dia, as mulheres que bebiam pelo menos três copos de leite por dia eram 16% mais propensas a ter qualquer fratura e 60% mais propensas a ter uma fratura da anca.

Além disso, os investigadores calcularam que as consumidoras de leite ávidas foram 93% mais propensas a morrer durante o curso do estudo do que as suas homólogas. Aquelas que bebiam pelo menos três copos de leite tinham 90% mais propensão a morrer de doença cardiovascular e 44% tinha mais probabilidade de morrer de cancro em comparação com as mulheres que bebiam menos de um copo de leite por dia.

Os efeitos foram menores nos homens. Aqueles que bebiam pelo menos três copos de leite por dia tinham 10% mais possibilidades de morrer durante o curso do estudo do que os homens que bebiam menos de um copo de leite por dia. Isso deve-se principalmente a um aumento do risco de doença cardiovascular de 16%, segundo os investigadores. O consumo de leite parecia ter qualquer influência sobre o risco de cancro ou fraturas para os homens.

Mas o que dizer de iogurte, queijo e outros produtos lácteos fermentados?

Em comparação com o leite, estes alimentos têm muito menos lactose. Isto porque eles são produzidos com bactérias (Lactobacilos), que deglutem a lactose e a convertem em ácido lático.

Os derivados produzem menos D-galactose e por acredita-se que este sim trazem os benefícios que se atribuem, normalmente, ao leite.

No final de tudo isto, os investigadores aconselham a não se desfazer do leite todo que tem casa. Tão-somente porque não há estudos a longo prazo sobre o tema e porque os participantes na experiência eram de ascendência europeia, logo os resultados podem não se aplicar a pessoas de outros grupos étnicos.

Fonte: Mundo
31.10.2014